Atualmente, é impossível falar de futebol americano sem citar a NFL. A liga norte-americana é uma das mais populares no país e no mundo e se confunde com a modalidade porque ninguém pode imaginar o esporte sem a National Football League, criada em 1920. A liga é a história do futebol americano.
Só que, diante do crescimento exponencial da modalidade nos Estados Unidos e no mundo, incluindo o Brasil, bastante fanático pelo jogo americano, surgem algumas questões. A NFL não consegue dar oportunidade para todos os jogadores novatos que aparecem já dentro dos EUA, imagina, então, para talentos de outros países que sonham em chegar ao futebol americano de elite.
Centralizada em jogadores americanos — é muito baixa ainda a porcentagem de estrangeiros na liga –, a NFL não tem espaço para todos os atletas que jogam o College (futebol americano universitário), mesmo com 32 franquias oficiais na liga.
Em meio a essa situação, diversas tentativas de “sombra” para a NFL já saíram do papel. Nenhuma delas, no entanto, conseguiu dar sequência ao projeto. Recentemente, a nova força que surgiu no futebol americano foi a AAF (Alliance of American Football), em tradução livre “aliança pelo futebol americano”. Mas ela durou muito pouco.
A seguir, conheça o que foi essa nova liga de futebol americano dos EUA, quais eram suas regras e informações a respeito da paralisação do evento. Ele ainda pode voltar? Há espaço para uma nova liga da modalidade nos Estados Unidos?
Antes de AAF, duas tentativas fracassaram
Desde a fusão da American Football League com a National Football League, em 1970, que resultou no produto que conhecemos hoje (as Conferências Americana e Nacional da NFL), o futebol americano foi dominado no país pela National Football League. Na história, dois principais empreendimentos tentaram competir com a NFL, mas não avançaram.
Nos anos 1980, criou-se a United State Football League (USFL). Em seguida, surgiu no país a Extreme Football League (XFL), já na primeira década do século. É impossível contar a história de uma sem citar a outra, pois há muitas coincidências nos projetos. A começar pelo fato de que ambos fracassaram.
Se financeiramente a USFL ruiu quando houve uma briga entre os sócios, entre eles o ex-presidente americano Donald Trump, esportivamente as ligas tiveram características semelhantes. As duas, quando foram criadas, foram comunicadas ao público como produtos que “revolucionariam” o futebol americano, sem as amarras e regras ‘estúpidas’ que podam o esporte na NFL. Este era o argumento central.
Em campo, no entanto, a argumentação não se sustentou, e por isso o fracasso. O nível técnico sempre foi muito abaixo e o público não teve paciência para cogitar trocar de liga. A NFL prevaleceu. Mais recentemente, a AAF (Alliance of American Football) buscou um espaço entre as grandes ligas dos Estados Unidos, surgiu de forma muito promissora, mas logo foi paralisada.
AAF: quando a liga paralela foi criada?
Fundada em 2018, a AAF (Alliance of American Football) não nasceu como a USFL e a XFL, que preferiram um discurso de combate à NFL e prometendo um jogo revolucionário de futebol americano. Pelo contrário. Entendendo que era muito complicado competir com a grande liga da modalidade, a AAF buscava um espaço, sem interferir no campeonato principal. Só que tudo foi interrompido de uma hora para outra.
Quantos times existiram na AAF?
Optando por começar de forma comedida, a AAF foi criada com oito equipes. Praticamente todas ficavam no sul dos Estados Unidos, e a regra inicial era explorar cidades que já tivessem equipes nas grandes ligas profissionais (basquete, beisebol etc.), mas que não estavam na NFL. O objetivo era atingir mercados grandes, com públicos que estão acostumados a consumir esporte, mas que ainda não tivessem referências na NFL.
No fim, duas franquias não seguiram esse padrão. Atlanta Legends e Arizona Hotshots dividiram mercado com uma equipe da NFL (Falcons e Cardinals). Mas o campeonato foi estabelecido de forma consistente em seu primeiro ano, ainda assim.
Regras da AAF: o que mudava em relação à NFL?
A AAF foi organizada por grandes figuras do futebol americano: os mais conhecidos são Troy Polamalu, safety histórico do Pittsburgh Steelers, Bill Pollian, ex-diretor de Buffalo Bills, Carolina Panthers e Indianapolis Colts, Justin Tuck, ex-defensive end do Oakland Raiders, e Mike Pereira, ex-árbitro e comentarista de TV.
Com um grande time por trás na organização, o campeonato não quis em nenhum momento atacar a NFL ou promover mudanças significativas nas regras, que poderiam culminar em um fracasso precoce.
Uma das mudanças mais marcantes na regra era em relação às faltas, constante ponto de reclamação dos fãs de futebol americano nos EUA. Mas a liberação de alguns lances que hoje em dia são considerados infração na NFL não foi feita bancando um um futebol americano “raiz”, “melhor” do que a liga principal da modalidade. Esse foi um ponto bem positivo.
Outra alteração significativa foi o fim do ponto extra após o touchdown. Na AAF, todo time era obrigado a tentar a conversão de dois pontos após cruzar a linha da end zone. Também foi excluído o kick offs: na nova liga, a equipe que receberia o chute já iniciava a campanha de sua linha de 25 jardas.
Por que a AAF foi interrompida? Foi pressão da NFL? Ela pode voltar?
Naturalmente, se levar em consideração a quantidade de atletas de futebol americano no próprio Estados Unidos e no mundo, dava para cravar que haveria espaço para a AAF. A liga, inclusive, nasceu explorando o intervalo entre uma temporada e outra da NFL e logo ganhou o “aval” da grande liga e de dezenas de atletas sem time.
Muitos, incluindo os organizadores da NFL, entendiam que a AAF poderia dar oportunidade para atletas que não fossem selecionados pelas 32 franquias, servindo como uma liga de desenvolvimento para a NFL. Mas o campeonato acabou subitamente, faltando duas rodadas para o fim da temporada regular, em 2019.
Tom Dundon, dono do Carolina Hurricanes (NHL), comprou a liga por US$ 250 milhões e decidiu unilateralmente paralisá-la. A decisão, à época, chocou os fãs da modalidade nos EUA, pegou a NFL de surpresa e causou um grande mal-estar entre os atletas e comissões técnicas das equipes.
Os times tiveram de encerrar as atividades de um dia para o outro, e os jogadores não receberam nem dinheiro para retornar para casa. De acordo com informações da imprensa dos EUA, Dundon tinha interesse unicamente pelo sistema de apostas esportivas que a AAF havia criado e aos poucos ia desenvolvendo — a compra seria por este motivo. Ninguém esperava, no entanto, que ela terminaria sem conhecer o primeiro campeão, e de um dia para o outro.
Teoricamente, a liga pode ser reiniciada a qualquer momento, já que ela foi interrompida, e não fechada totalmente. A questão é que isso parece pouco provável, a não ser que o novo dono mude de ideia após o término da temporada da NFL, em fevereiro de 2022. Até o momento, não há informações sobre um retorno da AAF desde abril de 2019, quando veio o comunicado de paralisação do evento.