Quando a National Hockey League foi criada, em novembro de 1917, a primeira guerra mundial ainda não havia acabado, e a revolução russa havia apenas começado.
Quando o primeiro jogador internacional entrou na NHL, em janeiro de 1965, a segunda guerra mundial já estava encerrada há mais de 20 anos, e a Rússia já havia enviado um homem ao espaço.
Pode ter levado 48 anos para a liga se internacionalizar quando o New York Rangers – que era cotado como um dos favoritos nas casas de apostas para vencer a Stanley Cup de 2020 – contratou o atacante sueco Ulf Sterner, mas a liga mais do que compensou por essa demora desde então.
É possível dizer agora que a NHL é a liga mais internacional na América do Norte, com jogadores estrangeiros influenciando o esporte como nunca antes.
De quais países vêm os jogadores da NHL?
Apesar de um influxo de jogadores de todo o mundo nos últimos 50 anos, pouco surpreende que canadenses continuem a ser a base da NHL.
Dos 690 jogadores que foram listados nos elencos da NHL para a primeira noite de jogos da temporada 2019/20, 295 vinham do Canadá. Isso significa quase metade – 42,8% para ser preciso.
E com 24 dos 31 times da NHL baseados nos EUA, tampouco surpreende que jogadores americanos sejam o segundo maior grupo da NHL.
Havia 177 americanos listados nos elencos da noite de abertura desta temporada – pouco mais de um quarto de toda a liga.
No total, jogadores da América do Norte continuam formando o maior grupo da NHL, com 472 jogadores – ou 68,4% – nascidos ou no Canadá ou nos EUA.
Isso significa que 31,6% dos jogadores da NHL são de outras partes do mundo – neste caso, principalmente da Europa.
Os países dominantes na Europa são Suécia (79 jogadores), Finlândia (33 jogadores), Rússia (31 jogadores), República Tcheca (26 jogadores), Suíça (11 jogadores) e Eslováquia (9 jogadores).
Todos estes países são tradicionais potências europeias, e todos menos a Suíça conquistaram o Campeonato Mundial da IIHF em algum momento.
É, porém, a presença de jogadores de lugares como Reino Unido, Bulgária e Cazaquistão – países com menos pedigree de hóquei – que realmente ilustra a crescente globalização da NHL.
Como a NHL se compara com outras ligas?
O número crescente de jogadores internacionais não é um fenômeno limitado ao hóquei – todas quatro grandes ligas esportivas norte-americanas passaram por crescimento semelhante nos últimos anos.
A NHL, porém, tem uma proporção maior de jogadores internacionais do que qualquer outra grande liga esportiva americana – NBA, NFL e MLB – com 31,6%.
A MLB não fica muito atrás, com 245 de seus 882 jogadores listados nos elencos do primeiro dia da temporada 2019 vindo de países fora de EUA e Canadá, o que equivale a 27,8%.
Na NBA, por sua vez, 92 astros internacionais significam 20,9% dos jogadores listados nos elencos do primeiro dia desta temporada.
De modo nada surpreendente, a NFL fica muito atrás de qualquer outra grande liga com apenas 43, ou seja, 2,5% dos 1.696 jogadores listados no elencos do primeiro dia da temporada 2019 vindo de fora da América do Norte.
O fato de que o futebol americano é jogado quase que exclusivamente nos EUA e no Canadá, enquanto hóquei, basquete e beisebol possuem várias ligas profissionais no mundo, ajuda a explicar a diferença.
É interessante notar, contudo, que ap
esar de uma proporção tão pequena de atletas internacionais, a NFL tem jogadores de mais países diferentes do que a NHL.
Na verdade, as 20 nacionalidades diferentes representadas na NHL são o menor número entre as quatro ligas. A NFL tem 23, a MLB tem 21, e a NBA lidera, com 37.
Mais uma vez, isso pode ser facilmente explicado. Beisebol, basquete e futebol americano podem ser jogados em quase toda condição climática e com muito pouco equipamento. O hóquei, por sua vez, requer uma pista de gelo e patins, além de ser praticado majoritariamente em países com clima frio.
Como a NHL mudou ao longo do tempo?
Para entender completamente por que a NHL se tornou a liga mais internacionalmente dominada na América do Norte, precisamos analisar como as coisas mudaram desde 1965.
Em um espaço de 15 anos desde a contratação de Sterner pelos Rangers, jogadores europeus alistaram-se no draft, foram selecionados para o All-Star Game e conquistaram a Stanley Cup.
No fim dos anos 1980, havia ainda apenas 49 jogadores internacionais nos elencos da NHL, o que significava 12,25% dos jogadores.
Então, em 1989, tudo mudou.
Com a primeira escolha do draft daquele ano, o Quebec Nordiques selecionou o central sueco Mats Sundin, que se tornou o primeiro jogador de fora da América do Norte a conquistar esse feito.
Entre as quatro grandes ligas esportivas, apenas a NBA antecedeu a NHL no recrutamento de um estrangeiro com a primeira escolha do draft. Na MLB, isso só aconteceu em 2012, e ainda não houve caso assim na NFL.
Isso deu início a uma avalanche de jogadores internacionais na NHL. Dirigentes começaram a entender a quantidade de talento que havia além do Atlântico para o hóquei.
Em dez anos, no começo da temporada 1999/00, o número de jogadores internacionais na NHL havia mais do que triplicado. Jogadores de fora da América do Norte já eram 157, compondo 29% dos elencos da liga.
O número de astros internacionais na NHL continuou a crescer nos 20 anos desde então, e 218 estrangeiros estavam listados nos elencos do primeiro dia da temporada 2019, com o hóquei liderando a participação global nos esportes americanos.
Ao olhar para o futuro, há indícios de que isso vai continuar.
Segundo a Pesquisa dos Jogadores realizada anualmente pela IIHF, existiam mais de 1,7 milhão de jogadores de hóquei no mundo em 2019. Esse número cresceu, e era de 1,4 milhão em 2009.
Dez anos atrás, havia 67 países registrados na IIHF. O último relatório mostra que agora há 79 países registrados, incluindo jogadores na Argélia, na Coreia do Norte, na Índia e na Tailândia.
O desenvolvimento de jogadores em países como Grã-Bretanha, Bulgária e Cazaquistão só vai estimular esse crescimento, colocando a NHL em uma posição forte para o futuro.