Pela primeira vez na história, um país dominou as duas finais das principais competições da Conmebol: Copa Sul-Americana e Copa Libertadores. Palmeiras e Flamengo no maior torneio do continente, em busca da ‘Glória eterna’, enquanto Red Bull Bragantino e Athletico-PR lutam pelo troféu da Sul-Americana na temporada 2021.
O feito, que obviamente mostra a força do futebol brasileiro em relação aos outros países da América do Sul, pode ser explicado por alguns fatores socioeconômicos e esportivos. A hegemonia também impacta diretamente no Campeonato Brasileiro e levanta debates sobre o futuro dos campeonatos da Conmebol a médio e longo prazo.
Em uma decisão, Palmeiras e Flamengo, os dois times mais estruturados do país no momento. Atual bicampeão brasileiro consecutivo, o Fla tem um timaço desde 2019 e entra como favorito em todos os campeonatos que participa no continente. Já o Verdão venceu o Brasileirão antes do bi seguido dos cariocas, é o atual campeão da Libertadores e tem um dos melhores elencos do Brasil.
Já na decisão da Sul-Americana estão dois times também organizados, mas de menor estrutura. De um lado, o Athletico-PR, que monta uma organização financeira e estrutura seu futebol há cerca de dez anos.
Do outro, o RB Bragantino, financiado pela marca mundial de energéticos, mas também bastante organizado. Além do controle financeiro, os clubes da Red Bull priorizam CTs de ponta, times jovens e venda de jogadores para mercados europeus por receita. A chegada à decisão da Sul-Americana aconteceu antes da meta traçada pelo clube de Bragança em relação a competições internacionais.
A hegemonia do Brasil nos torneios da Conmebol influenciam em muitas questões na própria temporada e no futuro dos campeonatos sul-americanos. Abaixo, veja o que explica as finais brasileiras na Sul-Americana e na Libertadores, os impactos e o que deve vir pela frente no futebol da América do Sul.
Finais caseiras: feito raro e inédito na América do Sul
A temporada 2021 é histórica para o futebol brasileiro, campeão das duas últimas edições da Libertadores, com Flamengo e Palmeiras, respectivamente. Agora, o clube carioca e o time paulista decidem o campeonato, em mais uma final totalmente disputada entre brasileiros. Em 2020, vale destacar, o Verdão venceu o rival Santos na decisão.
Campeão da Sul-Americana em 2018, o Athletico Paranaense tem uma relação particular com a competição. Foi o primeiro título internacional oficial do Furacão, e o clube tem a chance de ser bi em 2021. Por outro lado, o RB Bragantino conseguiu transformar a organização em superioridade no continente e chega pela primeira vez a uma decisão internacional.
Com o domínio brasileiro no Estádio Centenário, no Uruguai — o palco receberá as duas finais, únicas –, o Brasil conseguiu um feito inédito: dominar 100% das duas decisões em um ano. Nenhum outro país da América do Sul havia feito isso anteriormente.
Brasil repete o que só ingleses conseguiram
Se na América do Sul o feito é inédito, na Europa, maior centro do futebol mundial, apenas os ingleses conseguiram a mesma proeza. Isso apenas em uma oportunidade, afinal não é algo muito comum.
Na temporada 2018/2019, Liverpool e Tottenham decidiram a Champions League, e os Reds ficaram com o título. Enquanto isso, a final da Liga Europa foi disputada entre Chelsea e Arsenal. Os Blues golearam e ficaram com o troféu.
À época, logo após ao domínio inglês nas finais das competições europeias, houve algumas reuniões e debates para entender se aquilo era, de fato, algo isolado ou indicativo de que a Premier League era muito superior às demais competições nacionais.
Brasileirão pode ter G9 para Libertadores 2022
Com Palmeiras e Flamengo brigando pelas primeiras colocações no Brasileirão, o G6 (grupo de times que se classificam para a próxima Copa Libertadores) muito provavelmente se transformará em G7, uma vez que o campeão continental garantirá a vaga com o título.
Na Sul-Americana, há a chance de o grupo se tornar G8, uma vez que o RB Bragantino está nas primeiras posições e, em caso de título, asseguraria a vaga por lá. Desta forma, só haveria a ampliação no número de vagas pela Sul-Americana com a vitória da equipe de São Paulo. A lista de classificação ainda pode chegar a um G9 caso o Atlético-MG, brigando pelo título, vença a Copa do Brasil — justamente contra o Furacão.
O que explica as finais caseiras na Sul-Americana e Libertadores?
Alguns fatores explicam o domínio brasileiro nas finais da Sul-Americana e da Libertadores. Esportivamente falando, o Brasileirão é o campeonato nacional mais equilibrado do continente, e isso naturalmente eleva o nível dos times participantes. A melhora, assim, é vista nos confrontos pela América do Sul.
Outro ponto é a questão financeira. O Brasil tem o melhor cenário econômico do continente, ainda que não viva uma situação boa, e o reflexo pode ser visto no futebol. A força do real diante de outras moedas também explica as contratações de sul-americanos pelos brasileiros. O fluxo é cada vez maior neste sentido, seja entre promessas e jogadores consagrados dos outros países.
“A mesma coisa que explica o domínio europeu no futebol mundial: a moeda. O melhor jogador do River Plate está no Galo [Nacho Fernández], o melhor do Peñarol no Athletico [David Terans], o melhor zagueiro paraguaio [Gustavo Gómez] no Palmeiras e a Red Bull em Bragança”, afirmou o jornalista Juca Kfouri, ao UOL, avaliando as finais caseiras.
Ainda é cedo para cravar o que pode acontecer a médio e longo prazo nas competições, mas a Conmebol já começa a conviver com reclamações por parte de imprensa e torcedores estrangeiros, preocupados com a diferença para o Brasil. É possível, aliás, que a entidade diminua o número de vagas do Brasileirão caso este domínio aconteça com muita frequência.