Para os fãs do cinema, hoje (17) é uma terça-feira especial: abrem-se oficialmente as cortinas da 75ª edição do Festival de Cinema de Cannes. Enquanto o Oscar é uma das cerimônias mais famosas do meio, Cannes está entre as mais importantes e esperadas. Entre os concorrentes à Palma de Ouro, temos estreias como o longa de terror Crimes do Futuro (Crimes of the Future) de David Cronenberg, estrelado por nomes como Kristen Stewart e Viggo Mortensen e o drama italiano Nostalgia, de Mario Martone, que já concorreu ao prêmio em 1995 e 1998.
O Brasil não teve nenhum título selecionado para a competição deste ano, mas os filmes brasileiros já marcaram presença no festival: foram mais de 50 indicações entre todos os prêmios durante 75 edições. Relembre os principais filmes que já foram indicados à Palma de Ouro e outros prêmios no festival francês de cinema:
1. Cangaceiro (1953)
Vencedor do extinto prêmio de Melhor Filme de Aventura, a obra de Lima Barreto teve sucesso semelhante ao de filmes de velho-oeste americano. Inspirado na história de Lampião, foi exibido em mais de 80 países após a estreia e premiação em Cannes, chegando a ser vendido para a Columbia Pictures, indústria gigantesca responsável por clássicos como Superman e Batman e Robin.
A estrela do filme é o cangaceiro Galdino, o Capitão, que apavora os vilarejos do nordeste brasileiro saqueando e matando, acompanhando do seu bando. Em um desses ataques, eles sequestram uma professora e pedem 20 contos de resgate por ela, mas a discórdia se instaura quando ele e um de seus comparsas ficam interessados pela moça e travam uma guerra interna.
2. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
Carregado de críticas sociais, Deus e o Diabo na Terra do Sol é um filme de Glauber Rocha que retrata o descaso das autoridades em relação às vidas sertanejas. No filme, o vaqueiro Manuel se revolta contra a exploração realizada pelo coronel Moraes e acaba o matando. Assim, ele passa a ser perseguido por jagunços e foge com sua esposa. O casal se junta aos seguidores de um messias, Sebastião, que promete o fim do sofrimento através da religião. Porém, a morte de uma criança resulta em eventos que acabam no fim dos seguidores de Sebastião.
Neste ano, o filme volta a ser exibido em Cannes na seleção Cannes Classics (ou seja, fora da seleção competitiva) em uma versão restaurada em 4K em uma iniciativa da filha de Glauber Rocha, a diretora Paloma Rocha, e o produtor Lino Meireles.
3. Vidas Secas (1963)
Baseado na obra de Graciliano Ramos e dirigido por Nelson Pereira dos Santos, Vidas Secas já foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos e foi indicado pelo British Film Institute como uma das 360 obras fundamentais numa cinemateca.
O drama se passa nos anos 1940, e a seca assola o sertão brasileiro. Fabiano, Sinha Vitória e personagens como o menino mais velho, o mais novo e a cadela Baleia compõem a trajetória de uma família sertaneja que busca como sobreviver em meio à secura nordestina. Seguindo um rio seco, eles encontram uma casa abandonada nas terras de um fazendeiro, e então finalmente a chuva cai. Com isso, o dono das terras volta com o gado e manda a família embora, mas Fabiano oferece seus serviços e conseguem ficar. Com muito trabalho e desejo de prosperar, atravessam mais um ano no sertão e percebem que, apesar de tudo, as dificuldades permanecem. Até que a seca chega outra vez.
4. Eu Sei que Vou te Amar (1986)
Escrito por Arnaldo Jabor, Eu Sei Que Vou te Amar é um drama protagonizado por Thales Pan Chacon e Fernanda Montenegro. No filme, um casal recém divorciado marca um reencontro e decide jogar uma espécie de jogo da verdade, no qual falam sobre tudo o que já aconteceu a um e ao outro ao longo da vida, como uma sessão de psicanálise filmada.
Indicado para Palma de Ouro, o filme não venceu a categoria, porém, levou a estatueta de Melhor Interpretação Feminina com a atuação de Fernanda Montenegro – conquista que só se repetiu para os brasileiros em 2008 com a atuação de Sandra Corveloni em Linha de Passe (direção de Walter Salles e Daniela Thomas).
5. Carandiru (2003)
O livro Estação Carandiru, escrito pelo médico Drauzio Varella, inspirou o filme Carandiru, um drama brasileiro dirigido por Héctor Babenco que abalou os tapetes vermelhos de Cannes em 2003. Indicado à Palma de Ouro e eleito em 2005 pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, a obra tem traços documentais e retrata o massacre ocorrido no Carandiru, prisão conhecida como a maior da América Latina à época, em que uma ação da polícia assassinou mais de 100 prisioneiros.
6. Ensaio Sobre a Cegueira (2008)
Ensaio sobre a Cegueira é um filme com diversas influências. Nipo-canado-britano-ítalo-brasileiro, o título dirigido por Fernando Meirelles foi lançado em 2008 e mistura drama, suspense e ficção científica em uma obra inspirada no livro de José Saramago.
Na história, uma cidade é tomada por uma epidemia de cegueira. Os primeiros acometidos pela doença são colocados em quarentena em um hospital abandonado e, logo, uma crise social começa. Serviços começam a falhar, produtos começam a entrar em escassez, e começam conflitos relacionados às necessidades básicas da humanidade, expondo os traços mais primários da espécie. Porém, há uma única testemunha ocular de tudo.
7. Aquarius (2016)
Presente na 69ª edição do Festival de Cannes, Aquarius é uma obra franco-brasileira dividida em 3 capítulos: “O cabelo de Clara”, “O amor de Clara” e “O câncer de Clara”e estrelado por nomes como Sônia Braga, Bárbara Colen e Humberto Carrão.
O filme começa em 1980 e se passa na praia de Boa Viagem, em Recife, Pernambuco. No início, a protagonista Clara, casada e jovem, está se recuperando de um câncer e criando e seus 3 filhos. 30 anos depois, em 2016, vemos Clara aos 65 anos, viúva, com os filhos crescidos, mas ainda vivendo no mesmo lugar – o edifício Aquarius, que dá nome ao filme -, sendo a última moradora do local. Durante a trama, carregada de significados e simbologias, ela recebe diversas ofertas e até assédios para deixar o apartamento vindos da Construtora Bonfim, que pretende demolir o prédio para erguer um mais moderno no mesmo terreno. Clara não vê motivos para deixar o lugar e trava um embate com a construtora.
8. Bacurau (2019)
Indicado e vencedor do Prêmio Júri no Festival de Cannes de 2019, a obra também conquistou prêmios no Festival de Munique como Melhor Filme, Festival de Lima como Melhor Direção, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro nas categorias Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Efeitos Visuais e mais – além de outras indicações.
O enredo traz a história de uma pequena cidade brasileira chamada Bacurau, situada no oeste de Pernambuco. Após perder a sua matriarca Carmelita, que viveu até os 94 anos, os habitantes percebem algo estranho acontecer na região. Além da presença de drones nos céus, estrangeiros começam a aparecer com intenções de exterminar toda a população. Os habitantes passam a ser atacados e cadáveres são encontrados. Agora, o importante é encontrar o inimigo e descobrir uma forma coletiva de defesa.
Com esses filmes, o Brasil fez algumas das passagens mais marcantes pelos tapetes vermelhos de Cannes. Enquanto não temos um próximo filme que represente o nosso cinema concorrendo à Palma de Ouro, por que não preparar uma pipoca para maratonar as obras antigas? Com a 75ª edição do Festival de Cinema de Cannes, vem muita coisa boa por aí: a sua lista de filmes com certeza vai aumentar!