Em conversa exclusiva à Betway, comentarista celebra torneio brasileiro, revela preferência entre Federer, Nadal e Djokovic, mas aposta em outro nome para 2022
Foi no Rio de Janeiro que Flávio Saretta viveu o último grande momento da carreira de tenista. Uma conquista dramática, digna de filme, e com final feliz: medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007.
“É uma recordação muito viva na minha mente. Joguei com o cotovelo fraturado a partir das quartas de final e não sabia. Fazia massagem, injeção e jogava”, relembra Saretta à nossa equipe de apostas de tênis, que para ser campeão precisou salvar dois match points na semifinal – quando perdia para o argentino Eduardo Schwank – e dois na final contra o chileno Adrián García, que chegou a sacar com 5 a 3 de vantagem no último set.
A decisão daquele Pan, adiada de sábado para domingo por causa da chuva, precisou ser realocada para uma quadra coberta e marcou o encerramento dos Jogos com medalha dourada para o Brasil. “Acabei jogando com mais torcida chilena do que brasileira porque não deixaram a galera entrar. Foi digno de último torneio da carreira, história pra contar aos filhos e netos. Pela importância e dificuldade, foi o momento mais marcante pra mim”, revela o ex-número 44 do ranking da ATP, que tem no currículo vitórias sobre nomes históricos do tênis que lideraram o ranking mundial, como os russos Marat Safin e Evgeni Kafelnicov, o espanhol Juan Carlos Ferrero, o chileno Marcelo Ríos e o compatriota Gustavo Kuerten, em torneio disputado na Costa do Sauípe quando Guga era o número 1 do mundo. “Tinha fama de gostar de peixe grande. Ganhava de caras muito melhores e às vezes perdia de caras piores”.
Aposentado das quadras aos 28 anos, Saretta, hoje com 41, lamenta não ter disputado um Rio Open, mas celebra a consolidação do torneio ATP 500 realizado desde 2014 no Brasil. Na edição atual, com início marcado para o dia 12 de fevereiro, nomes badalados do circuito estarão no Jockey Club Brasileiro, como o italiano Matteo Berrettini, o argentino Diego Schwartzman, o norueguês Casper Ruud e os espanhóis Pablo Carreño Busta e Carlos Alcaraz. “Tá muito disputado esse ano. Eu falo três nomes que podem ser favoritos: Berrettini, Casper Ruud, que joga muito no saibro, e o Alcaraz, que, não sei quando, vai ser o novo Nadal. Obviamente não vai ganhar 13 Roland Garros, mas acho que será o novo rei do saibro nos próximos anos”, avalia.
Falar de Rafael Nadal e não lembrar de Roger Federer e Novak Djokovic é missão quase impossível. Recém-campeão do Australian Open no último dia 30 de janeiro após batalha épica contra o russo Daniil Medvedev, o espanhol se tornou o homem com mais títulos de Grand Slam na história. Agora, Nadal tem 21 conquistas de Majors, contra 20 de Federer e de Djokovic. “Na época que o Pete Sampras era o recordista e tinha 14 Grand Slams era um negócio surreal imaginar que alguém ganharia isso. Temos nessa geração três caras com 20 Grand Slams [Nadal ganhou o 21° após a realização dessa entrevista]. É ridículo o que eles fizeram. E com chances de ganhar mais. Eu acho que daqui a 50 anos a comparação vai ser medida pelo número de Grand Slams que cada um tiver, não tem como”, analisa Saretta sem fugir da pergunta mais complexa e intrigante do tênis: Federer, Nadal ou Djokovic? Quem é o maior? “Como gosto de uma boa polêmica, eu vou falar que acho o Djokovic mais jogador. Acho que ele tem a genialidade do Federer, com a força mental e física do Nadal. Gosto muito de como ele sai dos momentos difíceis. Um cara que é gigantesco e joga com torcida contra desde que surgiu, por isso acho ele maior ainda”. Mesmo assim, o comentarista acredita que o circuito pode ter um outro protagonista em 2022: Medvedev, vice-campeão em Melbourne.
Polêmico desde os tempos de jogador, Saretta brinca que, com ele, “a lei de atração da raquete com o chão era muito grande”. Dono de um jogo agressivo no fundo de quadra, o paulista de Americana, ao projetar seu estilo para os dias de hoje, se identifica com o temperamento do italiano Fabio Fognini – que também adora quebrar uma raquete – e com a intensidade do jovem espanhol Alcaraz. Os dois estão confirmados no Rio Open.
O torneio de nível ATP 500, com grandes nomes do tênis em solo brasileiro, parece ser um consolo no país que, segundo Saretta, ainda engatinha em planejamento e políticas públicas ligadas ao tênis. “Quando o Guga foi número 1 do mundo, não tinha lugar ou vaga em qualquer academia de tênis, pais tiravam crianças do futebol e colocavam no tênis. Foi um absurdo. Todo mundo falava de tênis, no táxi, na padaria, na farmácia… Todo mundo parava o fim de semana pra assistir. O Guga puxou essa história toda, que não foi aproveitada. Depois daquilo teve um boicote na federação dos tenistas, que eu acabei puxando e me dei muito mal, perdi todos os patrocínios… Era uma história pra mudar o comando. Os tenistas não tinham força. Se você pegar qualquer país que teve um número 1 do mundo, a força do tênis é muito grande. Absolutamente nada aproveitado por aqui”, lamenta.
O ex-tenista, por outro lado, pôde desfrutar da convivência com o maior jogador brasileiro da história. “Nossa geração, com Meligeni, Guga, André Sá, tinha mais brasileiros competitivos no circuito e tinha um exemplo absurdo que puxou todo esse trem, que foi o Guga. Quando você vê esse cara do teu lado, dividindo quarto, jantando, almoçando contigo, você fala: pô cara, eu posso chegar também. Talvez hoje, no feminino, a Luisa Stefani seja essa jogadora que faça as outras meninas acreditarem”, completa. Luisa, que ainda se recupera de uma cirurgia no joelho, foi medalhista olímpica com Laura Pigossi nas duplas e a primeira mulher brasileira na Era Aberta do tênis a entrar no Top 10 do ranking da WTA. Também nas duplas, Bia Haddad Maia, lembrada por Saretta como um nome forte do país, acaba de fazer história no 1° Grand Slam do ano ao ficar com o vice-campeonato do Australian Open ao lado da cazaque Ana Danilina.
Flávio Saretta, com carreira curta e “bem vivida”, ainda respira o esporte. O comentarista, medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007, agora é um ilustre espectador do circuito e da disputa acirrada que está por vir na cidade maravilhosa a partir do dia 12 de fevereiro. Ele será homenageado pela organização do torneio na atual edição e é mais um brasileiro de olho no Rio Open.