Neymar e outros ‘Meninos da Vila’ brilharam na Copa do Brasil com lances de efeito e goleadas; relembre o título do Santos em 2010
Como é realizada em todas as temporadas do futebol brasileiro, a Copa do Brasil coroa a cada ano um novo campeão nacional no torneio mata-mata. Mas nem todos os times que conquistam o título conseguem marcar época e deixar um legado no país como fez o Santos, em 2010, guiado principalmente pelo talento da dupla Neymar e Paulo Henrique Ganso.
Depois de um 2009 instável, em que o Peixe terminou na 12ª colocação no Campeonato Brasileiro, a expectativa não era muito alta para 2010 na Vila Belmiro. Afinal, o Santos amargava problemas financeiros, não disputaria a Copa Libertadores naquele ano e precisava apostar nos garotos para dar conta da temporada.
Liderados pelo técnico Dorival Júnior, Neymar, Ganso, Wesley e André corresponderam bem já de início: a molecada, mesclando com a experiência de Robinho (capitão), Durval e Edu Dracena, garantiu mais um título do Campeonato Paulista para o Peixe em 2010, ganhando moral para o decorrer da temporada.
Com um time muito bom, mas um elenco desequilibrado, o Santos tinha muito mais motivos para apostar na Copa do Brasil, mata-mata e de ‘tiro curto’, e não no Brasileirão, que premia a regularidade, a constância e bons sistemas defensivos.
O Santos, com o gênio Neymar brotando para o futebol mundial, era tudo ao contrário do que pede o Brasileirão. Leve, do drible, com improvisações e lances de efeito, o Alvinegro não abria mão do ataque fosse qualquer adversário, em qualquer estádio.
O modelo, claro, deixava naturalmente a defesa exposta, e o clube não conseguiu brigar no campeonato de pontos corridos. A equipe da Baixada, por sinal, terminou na oitava colocação.
Na Copa do Brasil, porém, um show e um futebol que encantou o país: Neymar e Ganso elevaram o nível de disputa e emplacaram goleadas no torneio mata-mata. Em seu site oficial, o Santos lembra aquela conquista da seguinte maneira:
“Um título como nos velhos tempos. Dizia-se do grande Santos bicampeão mundial que se fazia três, mas marcava seis, o que era garantia de grande espetáculo. Pois o Alvinegro na Copa do Brasil de 2010 era assim. Sofria fora de casa, mas na Vila mostrava um futebol primoroso”, destaca um texto do Centro de Memória do clube.
A seguir, relembre aquela campanha na Copa do Brasil de 2010, quem o Santos ‘atropelou’ na competição e os números do Alvinegro e de Neymar.
Santos atropelou Naviraiense na Vila e goleou Remo
Os Meninos da Vila estrearam na Copa do Brasil de 2010 contra o modesto Naviraiense, do Mato Grosso do Sul. A garotada sentiu o peso do jogo e só venceu por 1 a 0 em Campo Grande, com gol de Marquinhos — à época, o regulamento previa que um triunfo por dois ou mais gols da equipe visitante, na primeira fase, eliminaria o duelo da volta.
Atualmente, a fase inicial é disputada em jogo único, com o time mais tradicional, ou mais bem ranqueado na CBF, atuando pelo empate ou vitória.
Desta forma, a vitória simples exigiu um confronto na Vila Belmiro, e aí veio o show. O Peixe aplicou um sonoro 10 a 0 e começou a chamar a atenção do país. Antes de a bola rolar, os atletas do Naviraiense foram à praia, pois muitos não conheciam o mar, e visitaram o Memorial das Conquistas do Alvinegro. A vinda para o jogo oficial acabou quase como uma excursão e um amistoso.
Em seguida, o Santos foi a Belém enfrentar o Remo, e aí conseguiu eliminar a volta. Vitória de goleada, por 4 a 0, e com um futebol convincente: Neymar e André fizeram dois gols cada.
Jogo difícil? Novo atropelo, desta vez no Guarani
O Santos avançou com folga para as oitavas de final da Copa do Brasil 2010, mas ninguém imaginava que outra goleada histórica estava por vir. Pois bem: na Vila Belmiro, Neymar deu show, fez cinco gols e já garantiu a classificação comandando um incrível 8 a 1 diante do Guarani.
O tradicional time de Campinas até venceu a volta, por 3 a 2, em um jogo protocolar e diante de um Peixe completamente reserva, mas àquela altura um único assunto dominava a mídia esportiva brasileira: Neymar. Ali o craque já tinha se tornado o principal destaque do país.
Atlético-MG e Grêmio ficam pelo caminho
A partir das quartas de final, o Peixe teve mais dificuldade, mas os talentos de Neymar e Ganso garantiram o título então inédito para a galeria do clube. Contra o Atlético-MG, nas quartas, Diego Tardelli esteve inspirado e liderou uma vitória por 3 a 2 dos mineiros. Na Vila, Neymar, André e Wesley fizeram os gols do triunfo por 3 a 1. Vaga assegurada de forma apertada.
Contra o Grêmio, o cenário foi semelhante, mas desta vez foi PH Ganso o responsável por garantir o Peixe na final. Na ida, em Porto Alegre, um maluco 4 a 3 para o Tricolor, também com os paulistas sofrendo defensivamente e indo atrás do placar na etapa final. Mas os Meninos da Vila reforçaram o poder ofensivo em casa, novamente com um 3 a 1: golaço de Ganso, além de tentos de Robinho e Wesley.
Final complicada, mas título ao Santos
Apesar do domínio completo do time alvinegro na primeira partida da decisão, o Santos venceu só por 2 a 0 na Vila Belmiro (Neymar e Marquinhos) e o Vitória ficou com a sensação de que poderia tirar a diferença na volta, no Barradão. Empurrado pela torcida, os baianos tiveram um duro golpe quando Edu Dracena abriu o placar. Apenas um 4 a 1 serviria para a equipe da Bahia.
Em um segundo tempo apagado do Santos e seus craques, o disposto Vitória virou a partida para 2 a 1 e foi para o ‘abafa’ nos minutos finais. Só que não deu para ampliar a vantagem, e o troféu ficou com os garotos da Vila de forma merecida.
Neymar artilheiro e mais: números do Santos na Copa do Brasil 2010
O que não faltou naquele título da Copa do Brasil do Santos foi identidade. Um time ofensivo e que vencia na qualidade dos jogadores e na quantidade de gols marcados lembrou os tempos áureos de Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe (bicampeões da Libertadores e mundiais na década de 1960).
Naquele torneio mata-mata, o Peixe marcou 39 gols em 11 jogos, com uma média impressionante de 3,54 tentos por partida. A defesa também sofreu um bocado (15 gols, média de 1,36), mas o talento garantiu a taça.
O ‘irresistível’ Neymar, como define o próprio clube em seu memorial para lembrar a conquista, foi o artilheiro da competição com 11 gols. Ele tinha apenas 18 anos. PH Ganso, que não manteve a genialidade vista na Baixada no decorrer da carreira, foi eleito o melhor jogador da competição aos 20 anos.