Entre as décadas de 1950 e 1990, os campeonatos estaduais foram os principais eventos futebolísticos do Brasil. Por muito tempo, vencer o regional era mais impactante do que levar um troféu a nível nacional, como a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ou a nível internacional. Hoje, a Copa Libertadores, por exemplo, tem outro peso aos clubes.
Neste cenário, está o Campeonato Carioca, do Rio de Janeiro, um dos mais tradicionais do país. A competição já consagrou grandes times, grandes craques (como Zico, Roberto Dinamite, Romário e muitos outros) e foi vitrine nacional justamente por ter um dos regulamentos mais legais de todos os estaduais brasileiros.
Por algumas décadas, o formato mais interessante e famoso do Brasil era o do Carioca. E ele fazia sucesso justamente por ser simples: até 2014, o vencedor da Taça Guanabara esperava o campeão da Taça Rio na finalíssima. Caso um clube fosse campeão dos dois turnos, terminava com o troféu antecipado.
Neste modelo, os clubes eram divididos em dois grupos e os dois melhores colocados de cada chave avançavam para duelos de semifinal e final. O vencedor levava a Taça Guanabara. Em seguida, o formato era repetido, definindo o dono da Taça Rio. Os times com as taças duelavam na grande decisão.
Em 2014, porém, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), mexeu no maior ‘charme’ de seu principal evento: o regulamento. Naquele ano e no seguinte (2015), o torneio adotou um sistema de turno único, no qual os quatro primeiros colocados se classificavam para a semifinal.
Já em 2016, novas mudanças: naquela edição, o Campeonato Carioca tornou a Taça Guanabara como segundo turno, limitando a Taça Rio a um prêmio de consolação para quem não conseguisse avançar para a fase final do estadual. O problema com o regulamento, no entanto, que virou piada e digno de muitos memes na internet, começou mesmo a partir de 2017.
Campeonato Carioca: alguém entende o regulamento?
O sentimento de quem torcia, cobria ou até jogava o Campeonato Carioca de 2017 a 2019 era de que se tratava de uma competição confusa. Depois de rodar com fórmulas de pontos corridos e mudando o peso dos troféus da Taça Guanabara e Taça Rio, a Ferj retomou com o sistema de dois turnos e finalíssima, após a disputa deles.
Só que, brilhantemente (ou não), a organização do Estadual do Rio de Janeiro colocou um elemento a mais que bagunçou o regulamento. Além dos títulos da Taça Guanabara e Taça Rio, a classificação para a grande fase final também dependia da pontuação acumulada (nos dois turnos) dos clubes. Ou seja, um time poderia se classificar para a fase final sem vencer nenhum dos turnos. Ou, ainda: uma equipe conseguia ser campeã antecipada mesmo se não vencesse uma das duas taças.
Então, para fechar era assim: havia os turnos (Taça Guanabara e Taça Rio) e, dependendo da pontuação dos clubes neles, havia também a semifinal e final do Carioca. Portanto, ser campeão dos dois turnos não adiantava muita coisa nesta fórmula.
Em 2017, regra de cartões piorou ainda mais regulamento
A confusão com o formato, que intrigou todos os envolvidos com o torneio, ganhou um incremento logo no primeiro ano em que o modelo ‘diferente’ foi adotado. Em 2017, uma distorção sobre regras de cartões amarelos punia quem fosse à final da Taça Rio, como revelou o então comentarista de arbitragem da TV Globo, Renato Marsiglia.
A regra dizia que as advertências eram zeradas ao fim das fases de grupos de cada turno (Taça Guanabara e Taça Rio). Mas o mesmo não acontecia após as finais de cada um dos turnos. Assim, portanto, quem disputou a fase decisiva dos turnos esteve sujeito a suspensões para o início da fase seguinte. Richarlison, à época jogador do Fluminense, sofreu com este erro de regulamento e ficou fora da segunda rodada da Taça Rio.
Mas ainda piorava. Depois da final da Taça Rio, por causa do regulamento confuso, vinha a semifinal e final geral do Carioca. Desta forma, quem disputou a reta decisiva da Taça Rio correu bastante risco de perder jogadores, pendurados, para a decisão do campeonato.
À época, a Ferj se defendeu. “Na verdade, não tem problema. Já está tudo decidido e tudo será colocado aos clubes através de resolução de diretoria, como foi no caso do Richarlison. Assim que terminou a Taça Guanabara fizemos uma resolução de diretoria deixando claro que os cartões acumulados na semifinal e final da Taça Guanabara são levados em consideração para a Taça Rio. Tanto que o Richarlison já cumpriu. E haverá o mesmo critério para as finais do Carioca, não tem como ter dois critérios”, destacou o diretor de competições da Ferj, Marcelo Vianna, em 2017.
Regulamento do Carioca mudou (e melhorou) em 2021
Depois dos confusos torneios de 2017, 2018 e 2019, a Ferj retomou o regulamento tradicional de turno e returno em 2020 — o Flamengo foi o campeão. Neste ano e no próximo (2022), no entanto, a Federação do Rio mexeu drasticamente no formato. A partir de agora, o Campeonato Carioca é disputado em pontos corridos.
Os 12 participantes se enfrentarão entre si, em 11 rodadas e sistema por pontos somados. Os quatro primeiros colocados fazem semifinal e final, em duas partidas por fase. Na semi, o primeiro, que enfrenta o quarto, e o segundo, que duela contra o terceiro, levam vantagem em caso de dois empates, em pontos ganhos e saldo de gols. Na decisão, não há nenhum tipo de vantagem.
Em uma medida semelhante ao “Troféu do Interior” do Paulistão, em que os times fora da capital que não avançam às quartas se enfrentam por uma taça simbólica, a Taça Rio será disputada à parte entre os times que ficarem de 5º a 8º. O campeão da primeira fase, ou seja, o que terminar as 11 rodadas na liderança, leva a Taça Guanabara.