Um zagueiro como melhor do mundo: foi justa a eleição de Cannavaro?

Até hoje, ele é o único zagueiro a conseguir uma bola de ouro, mas sua eleição não foi tão bem aceita até hoje. Será que ele mereceu, mesmo?
O prêmio de melhor do mundo da Fifa virou, há alguns anos, um concurso de popularidade. As decisões são sempre um pouco polêmicas, isso quando não atingem graus de discussão ainda maiores, como na eleição de Modric em 2018.
É verdade que isso começou com a disputa entre Messi e Cristiano Ronaldo, em 2008, uma hegemonia que só foi ser quebrada justamente pelo croata e seu desempenho extraordinário naquele ano, levando sua seleção ao vice-campeonato na Rússia. Antes disso, a eleição era mais ou menos sobre o melhor jogador do ano. Sim, era um teste de popularidade, também, mas muito menos do que é hoje, com o português e o argentino entregando performances quase idênticas, ano após ano.
Mas é inegável que os jogadores mais populares do mundo são atacantes ou, no máximo, os meias-atacantes. Ora, eles fazem os gols. Eles têm as comemorações mais criativas, de tão habituados a fazê-las. E eles são os heróis dos títulos e vendem mais camisas por isso. É raro vermos um meio-campista mais defensivo ou até mesmo um defensor ser reconhecido como melhor em um jogo onde ganha o mais pop. Na verdade, não é apenas raro. É um evento que aconteceu apenas 3 vezes em toda a história: o primeiro foi ninguém menos que o próprio Kaiser, Franz Beckenbauer, em 1972. O segundo foi outro alemão, Matthias Sammer, em 1996. E o último foi o italiano Fabio Cannavaro. E é neste terceiro nome que vamos focar a partir de agora.
Cannavaro era um zagueiro dos mais espetaculares que já jogou. Seu tempo de bola, posicionamento e técnica eram quase irreplicáveis. Os italianos o colocam em um patamar de idolatria semelhante ao de Maldini, Baresi e outros grandes nomes da zaga em um país conhecido por formar os maiores defensores de todos os tempos. E ele tem algo que a maior parte dos grandes zagueiros italianos não têm: capitão de um título mundial em seu currículo. Maldini não ganhou uma Copa. Ele rejeitou a convocação em 2006 por se considerar velho demais. Baresi venceu em 1982, mas com 22 anos, sequer foi relacionado para uma partida durante toda a competição.
A qualidade de Cannavaro o levou da Parma para a Internazionale, da Inter para a Juventus, da Juve para o Real Madrid e então de volta para a Juve, já em idade avançada, antes de ir se aposentar nos Emirados Árabes. Uma carreira ilustre e repleta de conquistas.
Mas fiquemos em 2006, ano do auge de Cannavaro. O ano de 2006, caso você não se lembre, foi ano de Copa do Mundo. Também foi o ano em que a Juventus ganhou um campeonato que acabou manchado e praticamente esquecido devido ao escândalo do Calciopoli, que teve como peça central a própria Juventus em que Cannavaro jogava.
Para efeito de comparação, vamos fingir por um momento que o escândalo jamais ocorreu e a Juve manteve seu título normalmente. A equipe venceu o campeonato com uma boa diferença de pontos para a Internazionale e Cannavaro foi um dos líderes da equipe. Em seu auge técnico e físico, o zagueiro foi totalmente dominante durante os 38 jogos.
Na Liga dos Campeões, a Juventus fez uma boa campanha na primeira fase, vencendo 5 dos 6 jogos e passando em primeiro lugar de um grupo que tinha o Bayern de Munique. Porém, após eliminar o Werder Bremen por causa dos gols marcados como visitante no primeiro jogo, a Velha Senhora não resistiu ao Arsenal de Henry, que chegaria à final daquele ano para perder para o Barcelona.
O escândalo do Calciopoli arrancou o título da Juventus e ainda rebaixou a equipe para a segunda divisão, com direito a perda de pontos desde o início da temporada seguinte. Há quem diga que o título italiano na Copa do Mundo, conquistado em meio a todo o furacão das investigações, salvou o Milan de ser rebaixado para a segunda divisão e a Juventus de ir direto para a terceira, mas isso nós nunca saberemos. Outra coisa que não saberemos é se Cannavaro teria ficado na Juve se a equipe não tivesse sido rebaixada.
Fato é que a Juventus caiu para a Série B, Cannavaro levantou a taça da Copa do Mundo e dias depois se mandou para Madrid, onde foi duas vezes campeão espanhol.
No fim do ano, Cannavaro foi eleito o melhor jogador do mundo, seguido de seu companheiro Buffon em segundo e por Thierry Henry em terceiro. Mas como sabemos, o prêmio de melhor do mundo, em ano de Copa, é diferente. Como Modric provou, a performance em uma Copa do Mundo pode pesar muito e é comum ver o melhor do mundial ser eleito também o melhor do planeta em dezembro. Foi assim com Modric em 2018, com Ronaldo em 2002, com Romário em 1994 e em vários outros anos.
Só que Cannavaro não foi eleito o melhor do mundial. Ele ficou em segundo lugar, atrás de Zinedine Zidane, que levou a França ao vice-campeonato e talvez seja o maior responsável pelo tetra italiano, por conta de sua cabeçada em Materazzi, seu último ato em um mundial.
Então, o que levou Zidane a não ser eleito o melhor do mundo em 2006, colocando o título nas mãos de Cannavaro? Bom, fora a questão de performance, que pode ser equiparada, nas devidas proporções, à disputa entre Messi e Cristiano Ronaldo, no sentido de que ambos jogaram demais naquela temporada, o que nos resta é a questão de popularidade. Ficaria feio para a Fifa eleger como melhor do mundo um jogador que protagonizou um lance tão lamentável, em um palco tão grande. Tanto que Zidane sequer ficou entre os 3 finalistas. Ele ficou em 5º lugar na eleição, atrás dos 3 finalistas já citados e de Ronaldinho, que ganhara a Liga dos Campeões com o Barça e era o atual vencedor do prêmio da Bola de Ouro.
Isso quer dizer que Cannavaro não merecia a Bola de Ouro? Não. Ele jogou demais naquela temporada e na Copa do Mundo, mas sua eleição tem muito mais a cara de uma jogada de publicidade da Fifa, que finalmente se rendeu a um zagueiro em uma premiação dominada por atacantes técnicos. Até mesmo o goleiro Buffon na segunda colocação, à frente de Henry, finalista da Copa e da Liga dos Campeões e Ronaldinho, campeão da Liga dos Campeões, que tiveram anos igualmente espetaculares. E se você quiser, pode jogar até a história do Calciopoli no meio. Afinal, Buffon e Cannavaro eram jogadores da Juventus. Mas aí já vira teoria da conspiração.
Desde Cannavaro, nenhum outro zagueiro venceu o prêmio individual máximo. Quem mais chegou perto foi Virgil Van Dijk, que recebeu muitos votos em dezembro último por conta de sua temporada dominante no Liverpool, que terminou com o título da Liga dos Campeões. Mas além de Cristiano Ronaldo e Messi, apenas Kaká em 2007 e Modric em 2018 venceram o prêmio, então talvez seja o caso de esperarmos o argentino e o português se aposentarem para ver se um zagueiro volta a aparecer com chances reais de vencer.
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