Seleção brasileira vive safra ruim? Estatísticas e técnicos renomados dizem o contrário

A ascensão dos jovens não é garantia de sucesso. Mas a combinação desse crescimento com a segurança de jogadores consagrados proporciona boas perspectivas para a seleção
Entre os argumentos usados para defender que a seleção brasileira não deve ir muito longe na Copa do Mundo de 2022 está a tese de que a atual safra de jogadores é ruim. Isso se explicaria pela ausência de protagonistas nos principais clubes e ligas do planeta, por uma suposta dependência solitária de Neymar e, claro, por reclamações sobre as escolhas de Tite.
Mas o que se vê nas estatísticas dos maiores campeonatos* e nas atitudes dos técnicos mais renomados da atualidade indica o contrário: há cada vez mais brasileiros em ascensão rumo ao protagonismo no futebol europeu, como Vinícius Júnior puxando a fila no Real Madrid.
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Desde o fim da Copa do Mundo de 2018, de fato, houve uma preocupação da comissão técnica da seleção brasileira sobre o processo de renovação da equipe que acabou eliminada para a Bélgica nas quartas de final na Rússia. Alguns veteranos foram deixando de ser convocados aos poucos, como Renato Augusto, Paulinho, Miranda e Filipe Luís, e outros jogadores importantes para o primeiro ciclo de Tite entraram em momentos de queda na carreira e deixaram o protagonismo de outros tempos para se tornarem reservas em seus clubes e ausências - quase - unânimes, como Willian e Philippe Coutinho.
Tite teve trabalho para reencontrar um caminho, fez dezenas de testes e apostou com seus auxiliares em nomes que geraram bastante resistência, mas que aos poucos se provam valiosos e decisivos no futebol de clubes e com a camisa da seleção brasileira. Fred e Lucas Paquetá são bons exemplos. O primeiro ainda é visto com desconfiança por boa parte da torcida e da crítica, mas se firmou como titular no Manchester United com o antigo técnico Ole Gunnar Solskjaer, quando era uma das poucas boas notícias da equipe, e manteve o status com os interinos Michael Carrick e Ralf Rangnick, inclusive com atuações decisivas na fase de grupos da Liga dos Campeões e nos dois últimos jogos do Campeonato Inglês, com assistências, pênalti sofrido e gol.
Paquetá também foi alvo de críticas e análises definitivas, mesmo que já tivesse dado sinais de seu potencial vestindo camisas pesadas como as de Flamengo e Milan. Oscilou, é verdade, em seu início na Europa e precisou da transferência para o Lyon e de uma mudança certeira em seu posicionamento, promovida por Tite, para deslanchar de vez. Hoje, atuando mais ofensivamente e aberto pela esquerda na seleção, tornou-se uma peça confiável para criar chances claras e fazer a bola circular com velocidade da defesa para o ataque, registrando com frequência gols e assistências. Seu protagonismo no Lyon é ainda maior e essa agressividade pode ser demonstrada pela presença entre os líderes em finalizações no Campeonato Francês: é o terceiro em tentativas, com 48, e o quarto em conclusões no alvo, com 21. O astro Kylian Mbappé, do PSG, lidera ambos os rankings com 60 e 23 finalizações, respectivamente.
Quando olhamos para estatísticas relevantes das principais ligas do mundo, podemos encontrar outros jogadores essenciais para o trabalho de Tite na seleção brasileira. Alguns mais velhos e consolidados, como o goleiro Alisson, e outros que foram lançados mais recentemente com grande badalação, como Raphinha e Antony. Alisson é o goleiro que ficou mais partidas sem tomar gols na Premier League até 15ª rodada. São oito “clean sheets”, contra sete de Ederson, o terceiro do ranking, e um dos responsáveis pela defesa do Manchester City ser a melhor da competição com somente nove gols sofridos. Já Raphinha não se acanha diante de concorrentes de peso na Inglaterra e, como referência do modesto elenco do Leeds United, é o quinto maior finalizador com 39 tentativas. O egípcio Mohamed Salah, do Liverpool, é o líder com 59 e Cristiano Ronaldo, do Manchester United, é o terceiro com 43.
Ainda no Campeonato Inglês, o protagonismo dos brasileiros pode ser visto para além das estatísticas. Thiago Silva, mesmo veterano, se estabeleceu como titular do Chelsea, é amado pela torcida e exaltado com frequência pelo técnico alemão Thomas Tuchel, que chegou a duas finais seguidas da Champions League - vice com o PSG e campeão com o Chelsea. Também não é raro ver Pep Guardiola fazendo elogios empolgados a Ederson e Gabriel Jesus no City, para não mencionar o jogador histórico que Fernandinho se tornou por lá. E, mais recentemente, em entrevista à TNT Sports, Jurgen Klopp fez mais uma de suas juras de amor ao trio brasileiro formado por Alisson, Fabinho e Roberto Firmino, além de ter reforçado sua comissão técnica com o preparador de goleiros Taffarel, que também faz parte do grupo de Tite.
Mas o exemplo mais claro para desmistificar a suposta falta de protagonistas na seleção brasileira vem da Espanha. O vitorioso técnico italiano Carlo Ancelotti encontrou seu time base no Real Madrid com quatro brasileiros: Militão, Casemiro, Rodrygo e Vini Jr.. Casemiro é o mais velho com 29 anos. Os demais estão abaixo dos 23. E todos se tornaram unanimidades. Militão forma dupla de grande potencial físico e técnico com David Alaba, ex-Bayern de Munique, na defesa é o quarto jogador que mais desarma em La Liga (28) e o quarto que mais recupera bolas na Champions (45).
Casemiro é incontestável há anos, segue impressionando com seus desarmes e lançamentos e se tornou um dos capitães da seleção brasileira. Rodrygo desbancou espanhóis amados pela torcida do Real, como Lucas Vásquez, Marco Asensio e Isco, enquanto Vini Jr. engrenou nas mãos de Ancelotti de forma assustadora, a ponto de ser vice-artilheiro do Campeonato Espanhol com dez gols, contra 12 do companheiro Karim Benzema, segundo em finalizações (25) e líder em dribles (50, contra 39 do segundo colocado, o belga Yannick Carrasco, do Atlético de Madrid).
Do quarteto, Militão é outro que já consolidou seu espaço na seleção e tem sido titular com frequência. Vini, enfim, ganhou a confiança de Tite após decepcionar em seus primeiros treinos e jogos. E só Rodrygo ainda tem passagem tímida pelo time canarinho. Ainda assim tem sido celebrado na imprensa espanhola pela capacidade de decidir jogos na Liga dos Campeões. Aos 20 anos, ele soma 21 partidas no maior torneio de clubes do mundo, sendo dez como titular, e já registrou sete gols e seis assistências, o que leva a uma participação direta em gols a cada 67 minutos em campo.
A Champions League também serve para Vini Jr. mostrar seu repertório ao liderar o ranking de dribles com 41 ações somente na fase de grupos. Mas vem da Holanda o principal jogador brasileiro dessa primeira metade da competição. Antony soma cinco assistências para ser o segundo no quesito, atrás apenas do português Bruno Fernandes, do Manchester United, e conduzir o Ajax a uma campanha de 100% de aproveitamento até aqui. Sem falar nos prêmios individuais de melhor em campo na própria Champions ou de gol mais bonito e jogador do mês no Campeonato Holandês. A revelação do São Paulo tem brilhado muito já na segunda temporada na Europa, ganhou espaço na seleção brasileira e mostra um teto muito alto para seguir evoluindo. E há ainda Matheus Cunha, campeão olímpico, que pelo Atlético de Madri registrou a segunda maior velocidade em arrancada desta edição da Champions: 38,6 km/h.
A ascensão desses jovens citados não é nenhuma garantia de sucesso para Tite. Mas a combinação desse crescimento com a segurança de jogadores já estabelecidos, como Marquinhos, proporciona boas perspectivas para a seleção se desenvolver até o Qatar. Os mais novos terão amadurecido mais e oscilado menos até lá e o técnico terá períodos maiores para treinos, além da chance de finalmente enfrentar adversários europeus. Há espaço e ferramentas para o Brasil evoluir e para acreditar que, dentro da nova realidade do futebol mundial, há sim uma safra de valor ganhando forma na seleção.
Confira outros brasileiros que lideram rankings de estatísticas pela Europa:
Liga dos Campeões
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Fernando (Sevilla) é o líder em recuperações de bola (51)
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Souza (Besiktas) é o quarto melhor em desarmes (40)
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Arthur (Juventus) registrou a arrancada mais rápida (38,7 km/h), com Marcos Antônio (Shakhtar Donetsk) e Matheus Cunha (Atlético de Madrid) empatados em segundo com 38,6 km
Campeonato Inglês
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Allan (Everton) é o segundo melhor em desarmes (44)
Campeonato Italiano
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João Pedro (Cagliari) é o quinto maior artilheiro com nove gols em 16 jogos
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Bremer (Torino) é o líder em recuperações de bola com 232 ações. Samir (Udinese e já convocado por Tite) é o terceiro com 173
Campeonato Francês
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Andrei Girotto (Nantes) é o terceiro maior ladrão de bolas com 49 desarmes e o quarto maior vencedor de duelos aéreos, com 47 ações
Campeonato Espanhol
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Diego Carlos (Sevilla e campeão olímpico em Tóquio) é o terceiro maior passador com 864 passes
Campeonato Português
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Otávio (Porto) é o segundo em assistências com cinco passes para gol
*Estatísticas retiradas das plataformas oficiais de cada competição até o dia 8 de dezembro de 2021.
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