Campeonato Brasileiro de 87 tinha dois blocos e divide opiniões sobre o campeão até hoje. Relembre ou conheça o que aconteceu
O Brasileirão de 87 é um dos mais comentados de toda a história da competição: quem foi o verdadeiro campeão, Flamengo ou Sport? A gente explica a polêmica a seguir, mas não, não espere que ao final do texto a Betway crave quem foi o legítimo dono do troféu nacional daquele ano.
Afinal, a discussão excede as quatro linhas até hoje — mesmo há mais de 30 anos do episódio –, virou disputa judicial e chegou ao Superior Tribunal Federal (STF). Aqui, um registro: o STF decretou, em 2018, causa ganha aos pernambucanos, como matéria esgotada.
Ou seja: o Leão foi definido como campeão de 87 e não havia mais como recorrer ou discutir sobre o tema. Ao menos juridicamente falando, já que nas conversas informais o assunto surge a cada vez que Flamengo e Sport se enfrentam pelo torneio, hoje por pontos corridos.
“Recebemos com muita honra e orgulho porque a luta foi intensa ao longo desses 30 anos e vencemos em campo e nos tribunais contra aqueles que tentaram subverter a ordem. Este reconhecimento, como o da Alepe, mostra que o título do Sport enaltece e engrandece não só o clube, como o Estado de Pernambuco. Representa a luta e insurreição do nordestino, que luta sempre pelos seus direitos com a garra de um leão”, declarou Arnaldo Barros, presidente do Sport em 2018, depois da decisão do STF.
À época, o Flamengo cogitou ir à Fifa para reivindicar a conquista da taça.
De lá para cá, o Rubro-negro carioca faturou mais três títulos brasileiros. Venceu em 1992, ganhou em 2009 com Adriano Imperador no comando e em 2019, com o time histórico de Jorge Jesus. Já os pernambucanos nunca mais conseguiram figurar entre as melhores equipes do país e não repetiram o feito.
O que aconteceu no Brasileirão de 87?
Vamos aos fatos, agora. Para começar a explicar todo o imbróglio de 1987, é necessário voltar para 1986, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou mudanças para o seu campeonato nacional.
Até 86, os Estaduais eram classificatórios para o Brasileirão. Em São Paulo, os seis primeiros do ano anterior se garantiam no nacional. No Rio, os cinco primeiros, além de dois gaúchos, dois mineiros e mais dois do Pernambucano. Campeões de Estaduais menores também se classificavam.
Desta forma, o Brasileirão teve 40 clubes na ‘primeira divisão’ entre 1980 e 1986. Em 86, a CBF prometeu mudar o sistema e criar, para 1987, o Campeonato Brasileiro de elite. A estratégia adotada foi classificar para a nova tabela os 24 melhores times de 1986.
Os problemas começaram, no entanto, quando o Botafogo ficou fora dos 24 clubes. Forçada pelas outras agremiações e por toda a história que o Glorioso do Rio de Janeiro tem no futebol brasileiro, a CBF voltou atrás na ideia de “Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão”, afirmando não ter mais condição financeira para realizar o torneio.
Foi aí, então, que surgiu o Clube Dos Treze. O famoso movimento, criado por Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia, anunciou que formaria um campeonato próprio para 87, organizado pelos clubes e independente da Confederação.
A CBF, diante da ameaça de perder relevância com os principais clubes do país, mobilizou-se para organizar o seu Brasileirão, novamente com 40 clubes. O Clube Dos Treze se reuniu com a entidade e chegou-se a um acordo: elaboração da Copa União, algo que representaria a série de elite e teria, além dos 13 de maior torcida, Coritiba, Goiás e Santa Cruz. Ao mesmo tempo, o torneio com 40 times, da CBF, representaria algo como a ‘segunda divisão’.
Quando desenvolveu o regulamento, a CBF previa o cruzamento do campeão e do vice do Módulo Verde (Copa União) com os dois primeiros do Módulo Amarelo (algo supostamente como a atual segunda divisão). Só que a direção do Clube dos Treze rechaçava este formato e dizia de forma clara que não participaria de cruzamento algum. Assim surgiu todo o impasse.
Neste meio tempo, é importante salientar, relatos da época dão conta de que a Copa União, jogada pelos grandes, acontecia de forma natural e era exibida como a “Série A” do Brasileirão. A TV Globo tinha os direitos de transmissão e colocava os jogos para todo o Brasil. Outro ponto importante é que Pernambuco via e vivia a Copa União também desta maneira, como primeira divisão, uma vez que o Santa Cruz representava o estado.
Módulo Verde x Módulo Amarelo
Em dezembro de 1987, o Flamengo venceu a Copa União, declarou-se campeão brasileiro e seu presidente, Márcio Braga, que encabeçava o Clube dos Treze, reafirmou que não disputaria qualquer tipo de cruzamento.
Em paralelo, Sport e Guarani se classificavam para a decisão do Módulo Amarelo, decidido nos pênaltis. Os pernambucanos e os paulistas ‘empataram’ na final, pois as cobranças chegaram a 11 a 11 e os clubes declararam-se campeões em conjunto.
A CBF, por sua vez, preparou para o início de 1988 a tabela do cruzamento dos módulos. Sport e Guarani contra Internacional e Flamengo, os dois melhores de cada divisão. Se algum dos times se recusasse a entrar em campo, o regulamento previa W.O. Foi o que aconteceu: sem as presenças de Fla e Inter, o Leão e o Guarani garantiram-se na “decisão do Campeonato Brasileiro”.
Na ida, empate por 1 a 1, em Campinas. O jogo da volta foi realizado no Recife, e os mandantes venceram por 1 a 0. O zagueiro Marco Antônio foi o responsável pelo gol que fez a CBF proclamar o Sport campeão brasileiro de 1987. Assim se deu toda a polêmica…